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domingo, 31 de dezembro de 2017
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Contra a História Econômica da Semana Passada
Contra a “História Econômica da Semana Passada”
Luiz
Eduardo Simões de Souza
Historiadores
costumam ter certa lerdeza em suas análises.
A
isso, alguns podem chamar prudência para com o desenvolvimento dos
fatos, fenômenos e processos a serem interpretados. Outros podem
chamar de certa insegurança para com o observado, na definição de
seus traços mais permanentes e característicos, o que só a
passagem do tempo permite.
Há,
até, os que veem nisso um caráter “escapista” ou “reacionário”,
no qual o historiador evita formular um juízo do passado mais
imediato, justamente por não querer se vincular às consequências
imediatas que os agentes dessas circunstâncias queiram lhe impingir.
Dada
a desonestidade intelectual dessa última visão, que ignora
solertemente o ensinamento de Marc Bloch de ser toda história
contemporânea, vamos dialogar com as duas primeiras.
Creio
ter o historiador – ao menos o honesto – o direito de fazer sua
interpretação com o devido vagar, o que lhe dá, por conseguinte,
algum distanciamento temporal entre o presente em que vive e seu
objeto de estudo.
Isso
não quer dizer que o historiador não possa falar de coisas que lhe
afetam diretamente em seu tempo, apenas que o descanso dos fatos
permite a precisão da análise. A História não é ferro que se
malha quente, a não ser pelo desejo de quem a forje.
A
História Econômica é, assim, muitas vezes confundida com a análise
econômica, até porque, na realidade, a segunda possui uma ligação
intrínseca com a primeira. Não há muito espaço para boa análise
econômica que prescinda da História, e vice-versa.
Mas
existe, na análise de conjuntura, o momento no qual historiador e
economista trilham caminhos distintos. A previsão do futuro a partir
do passado mais imediato é um imperativo que cabe muito mais ao
economista do que ao historiador, o que talvez se deva à
desconfiança que a ciência histórica desenvolveu a respeito desse
procedimento, graças à extensão de tempo de sua consolidação,
maior do que a da ciência econômica. Assim, provavelmente pelo
maior tempo de janela dos historiadores, estes busquem maior
sobriedade onde os economistas joguem a toalha branca e os ossos de
adivinhação, embriagando-se com a modelagem matemática e a
estatística inferencial.
O
historiador econômico fica, dessa forma, em um dilema entre
imbuir-se do poder de oráculo conferido aos economistas pelo status
preditivo de sua ciência, e dele abdicar em troca de uma análise
mais profunda de seu objeto, conquanto maturada pelo que o tempo e a
reflexão trazem a ela.
Ao
final, a escolha entre um e outro caminho acaba cabendo ao
historiador, o que também pode defini—lo como um encadeador de
sucessivos curtos prazos – erro que induz muita gente a pensar que
faz história econômica – ou como um historiador econômico de
fato, observando as ondas longas, as estruturas que compõem os
cenários por onde elas trafegam, e seu ritmo, que não é o das
meras flutuações conjunturais.
Por
isso, escrever a “história econômica da semana passada”
constitui erro, infelizmente muito comum, e ainda mais infelizmente
muito pouco reprimido quando ainda em condições de sê-lo, durante
o período de formação do historiador econômico.
É
importante ressaltarmos que não queremos impor agenda alguma de
pesquisa a quem quer que seja. Economistas que pincelem suas análises
conjunturais com efemérides ou curiosidades de almanaque, ou
historiadores que acham ser o longo prazo uma sucessão linear e
contínua de curtos prazos, que escrevam suas “pesquisas” ou
“interpretações” tão rápido quanto a tinta seque no papel ou
o corretor ortográfico autorize, podem continuar a seguir o que lhes
parece ser sua disposição mais confortável. Existem mesmo lugares
em que as pessoas podem também fazer isso, se acharem que são
Napoleão, que as condições pré-revolucionárias a impelem à
escrita compulsiva e irrefletida ou mesmo se acharem que possam voar.
Só não saiam por aí se apresentando como “historiadoras
econômicas”. O nome é outro.
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